O debate que desenvolvo abaixo nasceu a partir das reflexões dos comentários da postagem “INTERVENÇÃO ‘URBANO’ COM TRILHA SONORA” de Aníbal Pacha. A discussão que proponho agora centra-se na questão: A operação da trilha sonora é apenas uma questão de escolha técnica?
Acredito que minha inquietação quanto à questão de como usar a sonoplastia (se com fone de ouvido ou com suporte externo) deixou de ser uma questão meramente técnica e passou a fazer parte da discussão da encenação dos projetos. Dois exemplos pra refletirmos: Se o meu projeto "Heróis" usasse, ao invés de suporte para sonorização externa, os fones de ouvido isso iria trazer quais desdobramentos do ponto de vista da encenação? Agora pensemos o mesmo no caso do teu projeto "Urbano", invertendo a proposição: Se usasses suporte para sonorização externa quais desdobramentos trariam pra tua encenação?
Respondendo ao primeiro exemplo penso que isso provocaria uma quebra no meu projeto, pois como bem percebeste entregar os fones sinaliza a oficialização do pacto ficcional, o gesto da entrega determina que é teatro, elimina-se as dúvidas, e, por conseguinte, o espectador conforma-se e comporta-se como um observador privilegiado. A condição de observador, no caso do meu projeto, é tudo que devo evitar pois a intenção é exatamente instigar brechtianamente as pessoas a refletirem sobre sua condição social. Portanto, a dúvida que desperta a "presença performática" do Adegesto Patáca no meio da Praça, é uma das maneiras de provocar as pessoas a pensarem: "O que é isso? É realmente hoje o processo eleitoral? Por que não posso ver se não der o documento? Por que corpo de heróis com cabeça de político? São heróis ou vilões?" Todos esses questionamentos já ouvi das pessoas com quem interagi. E mesmo os que não chegam a ver o que tem dentro da caixa, a provocação para a reflexão sobre a questão democrática é colocada, pois Patáca ataca com questionamento: "Não sabia que o processo era hoje? Não se importa com a democracia? Qual é a arma do cidadão brasileiro?" A partir de tais questionamentos se desdobra a reflexão, não permitindo em nenhum momento ao espectador o lugar cômodo de observador passivo. Mas se resolvo colocar os fones de ouvido, penso que corro o risco de quebrar essa engrenagem da encenação. Lembro ainda que desde que estreei este projeto, pouquíssimas vezes as pessoas ao final da intervenção, me parabenizam ou comentam sobre a natureza artística do projeto. E mesmo os poucos que assim o fizeram, recebem a indiferença de Patáca que continua atuando pela lógica da encenação.
Agora exercitando o raciocínio tendo como objeto o teu projeto “Urbano”. Penso que se a sonoplastia vem de dentro da caixa (sem a utilização dos fones de ouvido), ela acaba por se confundir com os próprios ruídos da rua, estabelecendo uma relação de continuidade com a realidade que cerca a fábula. Encerrada a fábula, a janela da caixa se fecha, a sonoplastia finaliza, mas os ruídos da rua (os mesmo reproduzidos na sonoplastia) permanecem e acompanharam sempre o espectador que possivelmente será motivado a pensar sobre esses ruídos tendo como referencia a imagem de contraste (dentro da caixa) que ficou registrada em sua memória. É claro que atuação do performer continua sendo imprescindível, usando ou não o fone de ouvido.
Gostaria que esse debate fosse amadurecido por todos nós que estamos envolvidos nessa pesquisa, pensando como essa questão atravessa os outros projetos não citados aqui. Mãos a obra!!!!
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