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sábado, 6 de outubro de 2012

Crônica de uma eleição falida




REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE RILEXINE –
  Uma dissimulação fabulosa baseada em fatos reais

Diário dos dez (des) candidatos.
A eleição deste ano é “dez” – gritava o poeta louco do alto do monumento histórico em plena praça pública: DEScabida, DESpropositada, DESmoralizada, DEScarada, DESmazelada, DESventurada, DESleixada, DESgraçada! Mas antes que pudesse completar seus versos anárquicos, o populacho de Rilexine, pouco afeito a qualquer tipo de arte que exija reflexão, tratava de silenciar o poeta louco a peso de pontapés, incomodado que estava com o barulho poético bem na hora do Trama dominical – manifestação cultural e popular típica daquela república que envolve música de percussão ritmada, mulher semi-pelada e população alienada.
Expulso da praça e com a cara presenteada de hematomas, assistia pela TV da vitrine da loja aquele espetáculo que considerava bisonho: os dez candidatos ao pleito de Rilexine no Potoca Embromacional Gratuita. Pra sua surpresa o primeiro a falar era também o que menos abria a boca, o Sr. Ah, Nãovalenada. Em virtude de senilidade bastante avançada, o candidato fazia um esforço sobre-humano para balbuciar seu slogan de campanha: “Eu ainda lembro como fazer”. Em verdade, não sabia nem ao certo o que estava falando e sua única esperança era o apoio DEScarado da então Prefeita da República, a excelentíssima Dulci, a má – assim conhecida entre os populares por sua fantástica habilidade em desaparecer da República logo após o período de campanha eleitoral; por esta incrível habilidade chegou-se a acreditar que Dulci, a má era uma autêntica feiticeira, fato logo esclarecido quando descoberto que seu diploma na Wicca era falso. A in-prospera aparição do candidato Ah, Nãovalenada mereceu o bradar do poeta louco: Decrépito!!!
Aidimim Com Rodrigues foi o segundo a se apresentar. Ufano e com o tom messiânico de sempre, porém com a língua mais solta que o habitual, o candidato vangloriava-se das façanhas alcanças por ocasião de seus oito anos de mandato, acreditando piamente ser o novo sol a raiar soberano no céu da república. Aliás, o programa de Aidimim parecia mesmo apelar pra fé dos cidadãos de Rilexine, tendo em vista a ausência de uma plataforma de governo efetiva. Ateu convicto, o poeta louco limitou-se ao escárnio: Ai de mim, ai de ti, ai de nós Com Rodrigues!
O programa prosseguiu apresentando, respectivamente, os quatro candidatos que as pesquisas eleitorais supostamente indicavam como concorrentes diretos a uma vaga no segundo turno: Zérrouba Umpouquinho, José Inoperante, Iludi e Anima e Ensaboado Porti. Os quatro trocavam acusações no intuito de atrair a atenção do eleitorado, estratégia bem vinda entre o povo de Rilexine propenso a baixarias e insultos de baixo calão – propensão adquirida por meio da educação estética oriunda da aclamada teledramaturgia da República. Diante da TV da loja, o poeta louco assistia a tudo de modo estarrecido, pois as trocas de acusações deixavam transparecer aquilo que seu olhar crítico já sabia: todos só falavam a verdade quando atacavam.
Zérrouba Umpouquinho era considerado uma espécie de gazeteiro, pois vivia faltando às sessões da Câmara Federal de Rilexine – isso explicava só conseguir rapinar um pouquinho de dinheiro público, fato que por si merecia a total censura de seus pares da Câmara – e, assim, como Ah, Nãovalenada, confiava tão somente no seu padrinho de campanha, o então Governador da República, excelentíssimo Afanão Jatém – mais conhecido como bicho preguiça, pouco habituado que é a tratar dos problemas da República. Por sua vez José Inoperante, além de gazeteiro não passava de uma parca sombra do mandatário de seu partido, excelentíssimo Verba Barbada, Senador de Rilexine conhecido de longa data por suas magistrais habilidades sorrateiras no erário da República. Perto de seu padrinho político José, de fato, não passava de um inoperante candidato, um títere desengonçado e malfadado. Com melhor desenvoltura frente às câmeras, o candidato Iludi e Anima valia-se de sua experiência na TV local. Com cara de bom moço e o cinismo peculiar de um autêntico “cretino fundamental”, empunhava o microfone e percorria as áreas fétidas de Rilexine sentindo-se um verdadeiro paladino dos pobres, orgulhando-se da condição de nunca ter assumido cargo público, embora sua trajetória na TV local evidenciasse os mesmos vícios dos políticos da velha guarda: clientelismo barato. Fechando o quarteto, Ensaboado Porti empunhava envaidecidamente a bandeira de candidato Careca Limpa – Projeto de Lei de iniciativa popular de Rilexine atestando que o candidato não perdeu cabelo em função de preocupações com processos de corrupção. O ilustre candidato, no entanto, sabia como ninguém usar as artimanhas do sabonete, escorregando invariavelmente de um lado a outro na banheira do poder. Assim, embora ostentasse a Careca Limpa, o resto do corpo estava sempre comprometido com os acordos de bastidor.
     Não contendo o animo diante de tamanha desfaçatez dos quatro candidatos, o poeta louco vociferou pausadamente: KA – RA – LÉ – O!!! Em seguida, respirou fundo e se recompôs evitando, desse modo, nova rodada de pontapés dos pudicos populares ali próximos. Pôde então, conferir os últimos quatro candidatos, considerados nanicos e sem nenhuma chance de comprometer os rumos do pleito. Apenas cumpriam tabela os candidatos: Levo no Rego, Laquê no Cabelo, Devo no Hotel e Aopovo Dou a Costa. Este último, aliás, seguia a desventurada estratégia do apadrinhamento político, tentando arregimentar pra si o apoio da 1ª Ministra da República, excelentíssima Dilmaligna, vulga boneca assassina. Estratégia que não surtiu os efeitos desejados, pois esta já tinha virado as costas pro povo há muito tempo.
  Aliviado com o termino da Potoca Embromacional Gratuita, e ao mesmo tempo estupefato com tudo que acabara de ver, restou ao poeta louco a certeza de que na República Democrática de Rilexine há espaço para todo e qualquer tipo de desvario político, exceto os desatinos do seu calibre. Resoluto, seguiu caminhando empunhando uma bandeira preta.


Edson Fernando 
05.10.2012

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