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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

“INTERVENÇÕES” E/OU “APRESENTAÇÕES”: Um jogo a pesquisar.

Depois da participação na 3ª edição do Festival Territórios de Teatro, o GETM volta a participar de evento agregador de uma série de apresentações artisticas: a VI Aldeia Círio - Mostra de Artes 2010, realizada pelo Sesc Pará. As apresentações do GETM aconteceram no Sesc-Boulevard e abriram a programação da OVERDOZE (Doze horas ininterruptas de arte), uma atividade dentro do Aldeia Círio do Sesc.

Como a pesquisa do GETM tem como característica marcante o desenvolvimento de "intervenções públicas", é interessante notar como a participação em eventos dessa natureza de alguma forma altera a relação entre o performer e o público. As "intervenções" que vem norteando os rumos das pesquisas do GETM, tem se concentrado da Praça da República; neste espaço o público transita livremente e, via de regra, é confrontado com o performer, por meio de uma abordagem que necessita de versatilidade e carisma para seduzir o público e conduzi-lo até a narrativa do interior da caixa. O performer nessa condição necessita de poder de convencimento, pois, não há acordo prévio entre público e performer, acerca da natureza da "intervenção"; em outras palavras, o público, via de regra, e pelo menos nos primeiros e decisivos instantes de  abordagem,  não sabe que se trata de uma apresentação artística, não sabe que se trata de teatro, e muito menos que se trata de um modo novo de perceber o objeto cênico. Isso tudo coloca o performer numa zona de risco, ou pelo menos numa zona de desconforto, na medida em que precisa estar atento a todo tipo de reação do público que não esta ali para vê-lo, não foi até a praça com o intuito exclusivo de assistir  uma modalidade de pesquisa em teatro que atua numa intersecção de linguagens (teatro de caixa, teatro e teatro de animação), mas sim foi até a praça, num domingo de manhã para se entreter, se divertir e relaxar;  desse modo, qualquer abordagem  de natureza desconhecida e que coloque em risco esse lazer e entretenimento, pode não ser bem vinda. É nessa zona de desconforto que o performer atua na praça, enfrentando muitas vezes a desconfiança, a hostilidade, e a indiferença do público. É obvio que a favor do performer,  pesa a curiosidade alheia, pois, uma pessoa que é seduzida e conduzida para apreciar a narrativa do interior da caixa, gera no seu entorno um desejo quase incontrolável de também conhecer aquele segredo oculto, daquele ser que estava ali, portanto, uma caixa estética e peculiarmente ornada, mas que até então, se apresentava como uma "ameaça" ao seu lazer. Neste campo instável de atuação, oriundo das intervenções na praça, o performer exercita seu poder de improvisação e sua capacidade de gerar uma atmosfera estética em torno de si, para que a totalidade da linguagem ali desenvolvida consiga atingir o público, ou seja, para que a fruição do público seja tanto no externo quanto no interno da caixa.
Esse jogo, essa rede de pequenas ações necessárias na abordagem desenvolvida na praça, é diluída, ou até  mesmo colocada de lado, nas participações em eventos com hora e local marcados. Isso porque o público nesses eventos é muito mais homogêneo, e via de regra, se dirige até o local do evento com o exclusivo desejo de assistir as apresentações. A zona de risco ou desconforto desaparece, e agora o performer  deve preocupar-se em como não esvaziar o significado da abordagem junto ao público, pois, não há necessidade de seduzir ou convencer o público; ele esta ali e quer assistir, ou seja, como manter a qualidade do embate com o público sem transformar essa abordagem meramente numa Mise-em-Scène?  
Penso que essa é uma questão interessante e de relevância para nosso debate.   

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