REPÚBLICA
DEMOCRÁTICA DE RILEXINE –
Uma
dissimulação fabulosa baseada em fatos reais
Diário
dos dez (des) candidatos.
A
eleição deste ano é “dez” – gritava o poeta louco do alto do monumento
histórico em plena praça pública: DEScabida, DESpropositada, DESmoralizada, DEScarada,
DESmazelada, DESventurada, DESleixada, DESgraçada! Mas antes que pudesse
completar seus versos anárquicos, o populacho de Rilexine, pouco afeito a qualquer
tipo de arte que exija reflexão, tratava de silenciar o poeta louco a peso de
pontapés, incomodado que estava com o barulho poético bem na hora do Trama dominical – manifestação cultural
e popular típica daquela república que envolve música de percussão ritmada,
mulher semi-pelada e população alienada.
Expulso
da praça e com a cara presenteada de hematomas, assistia pela TV da vitrine da
loja aquele espetáculo que considerava bisonho: os dez candidatos ao pleito de
Rilexine no Potoca Embromacional
Gratuita. Pra sua surpresa o primeiro a falar era também o que menos abria
a boca, o Sr. Ah, Nãovalenada. Em
virtude de senilidade bastante avançada, o candidato fazia um esforço
sobre-humano para balbuciar seu slogan de campanha: “Eu ainda lembro como
fazer”. Em verdade, não sabia nem ao certo o que estava falando e sua única
esperança era o apoio DEScarado da então Prefeita da República, a
excelentíssima Dulci, a má – assim
conhecida entre os populares por sua fantástica habilidade em desaparecer da
República logo após o período de campanha eleitoral; por esta incrível
habilidade chegou-se a acreditar que Dulci,
a má era uma autêntica feiticeira, fato logo esclarecido quando descoberto
que seu diploma na Wicca era falso. A in-prospera aparição do candidato Ah, Nãovalenada mereceu o bradar do
poeta louco: Decrépito!!!
Aidimim Com Rodrigues foi
o segundo a se apresentar. Ufano e com o tom messiânico de sempre, porém com a
língua mais solta que o habitual, o candidato vangloriava-se das façanhas
alcanças por ocasião de seus oito anos de mandato, acreditando piamente ser o
novo sol a raiar soberano no céu da república. Aliás, o programa de Aidimim parecia mesmo apelar pra fé dos
cidadãos de Rilexine, tendo em vista a ausência de uma plataforma de governo
efetiva. Ateu convicto, o poeta louco limitou-se ao escárnio: Ai de mim, ai de
ti, ai de nós Com Rodrigues!
O
programa prosseguiu apresentando, respectivamente, os quatro candidatos que as
pesquisas eleitorais supostamente indicavam como concorrentes diretos a uma
vaga no segundo turno: Zérrouba
Umpouquinho, José Inoperante, Iludi e
Anima e Ensaboado Porti. Os quatro trocavam acusações no
intuito de atrair a atenção do eleitorado, estratégia bem vinda entre o povo de
Rilexine propenso a baixarias e insultos de baixo calão – propensão adquirida
por meio da educação estética oriunda da aclamada teledramaturgia da República.
Diante da TV da loja, o poeta louco assistia a tudo de modo estarrecido, pois
as trocas de acusações deixavam transparecer aquilo que seu olhar crítico já
sabia: todos só falavam a verdade quando atacavam.
Zérrouba Umpouquinho
era considerado uma espécie de gazeteiro, pois vivia faltando às sessões da
Câmara Federal de Rilexine – isso explicava só conseguir rapinar um pouquinho
de dinheiro público, fato que por si merecia a total censura de seus pares da
Câmara – e, assim, como Ah, Nãovalenada,
confiava tão somente no seu padrinho de campanha, o então Governador da
República, excelentíssimo Afanão Jatém –
mais conhecido como bicho preguiça, pouco habituado que é a tratar dos
problemas da República. Por sua vez José
Inoperante, além de gazeteiro não passava de uma parca sombra do mandatário
de seu partido, excelentíssimo Verba
Barbada, Senador de Rilexine conhecido de longa data por suas magistrais
habilidades sorrateiras no erário da República. Perto de seu padrinho político
José, de fato, não passava de um inoperante candidato, um títere desengonçado e
malfadado. Com melhor desenvoltura frente às câmeras, o candidato Iludi e Anima valia-se de sua experiência
na TV local. Com cara de bom moço e
o cinismo peculiar de um autêntico “cretino fundamental”, empunhava o microfone
e percorria as áreas fétidas de Rilexine sentindo-se um verdadeiro paladino dos
pobres, orgulhando-se da condição de nunca ter assumido cargo público, embora
sua trajetória na TV local evidenciasse os mesmos vícios dos políticos da velha
guarda: clientelismo barato. Fechando o quarteto, Ensaboado Porti empunhava
envaidecidamente a bandeira de candidato Careca Limpa – Projeto de Lei de
iniciativa popular de Rilexine atestando que o candidato não perdeu cabelo em
função de preocupações com processos de corrupção. O ilustre candidato, no
entanto, sabia como ninguém usar as artimanhas do sabonete, escorregando
invariavelmente de um lado a outro na banheira do poder. Assim, embora
ostentasse a Careca Limpa, o resto do corpo estava sempre comprometido com os
acordos de bastidor.
Não
contendo o animo diante de tamanha desfaçatez dos quatro candidatos, o poeta
louco vociferou pausadamente: KA – RA – LÉ – O!!! Em seguida, respirou fundo e
se recompôs evitando, desse modo, nova rodada de pontapés dos pudicos populares
ali próximos. Pôde então, conferir os últimos quatro candidatos, considerados
nanicos e sem nenhuma chance de comprometer os rumos do pleito. Apenas cumpriam
tabela os candidatos: Levo no Rego,
Laquê no Cabelo, Devo no Hotel e Aopovo Dou a Costa. Este último, aliás, seguia a desventurada estratégia do
apadrinhamento político, tentando arregimentar pra si o apoio da 1ª Ministra da
República, excelentíssima Dilmaligna,
vulga boneca assassina. Estratégia que não surtiu os efeitos desejados, pois
esta já tinha virado as costas pro povo há muito tempo.
Aliviado
com o termino da Potoca Embromacional Gratuita, e ao mesmo tempo estupefato com
tudo que acabara de ver, restou ao poeta louco a certeza de que na República
Democrática de Rilexine há espaço para todo e qualquer tipo de desvario
político, exceto os desatinos do seu calibre. Resoluto, seguiu caminhando
empunhando uma bandeira preta.
Edson Fernando
05.10.2012
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